Tuesday, May 1, 2007

QUINTA DO ALFEITE


Considerada como um dos lugares mais deslumbrantes e belos de Almada, a Quinta do Alfeite, que em tempos passados se designava de Quinta Real do Alfeite, é hoje parte integrante da freguesia do Laranjeiro.
Com uma área aproximada de trezentos hectares, o lugar está circunscrito aos lugares do Caramujo, Romeira, Cova da Piedade, Barrocas, Laranjeiro, Rato, Miratejo, esteiro de Corroios e Ponta dos Corvos.
A proximidade e o contacto com o rio Tejo, bem como a riqueza das suas águas em peixe e moluscos e ainda a floresta abundante de espécies de caça como borrelhos, garças e patos, fizeram com que a fixação do homem nesta região fosse, no decorrer dos tempos, uma constante.

Favorita do Rei D. Carlos

Possuidora de uma das mais importantes coutadas, a Quinta do Alfeite foi, muitas vezes, lugar preferido do Rei D. Carlos, para as suas caçadas, alojando-se por lá nesses períodos de lazer e recreio venatório.
Este lugar está ligado a momentos muito importantes da nossa história, sendo um dos seus mais importantes protagonistas, D. Nuno Álvares Pereira, possuidor das Azenhas de Corroios, existentes ao pé da Quinta de Aires Paes e os esteiros de Algenoa, de Amora, de Arrentela e de Corroios, doados à Ordem de Carmelitas em 28 de Julho de 1404. Para além destes bens a Ordem recebeu ainda a Quinta de Corroios e o pinhal das Covas de Prata. ,
A Quinta do Alfeite, em finais do Séc. XVI, era pertença de João Álvares Caminha. Francisco Pires Cotão, adquire por alvará de sub-rogação os pinhais do Alfeite.
Três anos depois do terramoto de 1 de Novembro de 1755, D. Pedro III, filho de D. João V, manda construir o Paço Real do Alfeite, sendo efectuado em 5 de Outubro de 1799, na cidade de Lisboa, o tombo da Quinta do Alfeite.

Tombo da Real Quinta do Alfeite

Em 1834, pelo decreto lei de 18 de Março é extinta a Casa do Infantado e passados 10 anos é feito um tombo da Real Quinta do Alfeite a 21 de Março de 1844, pelo almoxarife Severiano Fernandes de Oliveira onde nos é dado a conhecer a relação de prédios do circulo administrativo do Almoxarifado do Alfeite:
Quinta do Alfeite - constituída por um prédio urbano (palácio arruinado e várias casas de acomodações) e prédio rústico (jardim, pomar de espinho, vinhas, olival, algumas árvores de pevide e caroço, horta, três tanques, dois poços com engenhos, duas minas de água, pinheiros mansos e bravos e cabeceiras de mato);
Quinta da Romeira - constituída por um prédio urbano (casas de habitação, várias casas acomodações, palheiro, adega e lagar) e prédio rústico (brejos com horta, várias de espinho, carroço e pevide, vinhas, olival, algum pinhal, cabeceiras de mato e dois poços, tendo um engenho e um tanque);
Quinta do Outeiro - constituída por um prédio urbano (casas de habitação e várias casas de acomodações, cavalariça e palheiro e seis armazéns grandes) e prédio rústico (um bocado ajardinado, horta, vinha, arvores de pevide e caroço, e de espinho, poço com engenho e dois tanques);
Quinta da Piedade - constituída por um prédio urbano (casas de habitação e várias casas de acomodações, casas para adega e lagar) e prédio rústico (vinha, arvores de pevide e caroço, e cabeceiras de mato e dois poços e um tanque);
Quintinha - constituída por um prédio rústico (casa rústica de habitação, vinha, olival, árvores de pevide e caroço, pinhal e cabeceiras de mato);
Quinta da Antelmo - constituída por um prédio urbano (casas de habitação muito arruinadas e várias casas de acomodações) e prédio rústico (pomar de espinho, horta, poço com engenho, olival, vinha, pinhal, e cabeceiras, de mato e viveiro para peixes).
Quinta da Bomba - constituída por um prédio urbano (pequenas casas de habitação e várias acomodações) e prédio rústico (pomar de espinho, horta, arvores de pevide e caroço, poço com engenho, vinha, olival, pequenos bocados de terrenos de semeadura, pinhal e cabeceiras).

Redondezas

É interessante referir que, através do respectivo tombo, se fica a saber que estas propriedades se encontravam contíguas, circundadas de vaiados e separadas umas das outras por grandes ruas de recreio, o que fazia parecer uma só propriedade, havendo fora dos vaiados uma grande porção de terra o que se pensa ser baldio, a qual está marcada e confina com a Ria do Seixal.
Ainda faziam parte da Real Quinta do Alfeite, duas courelas de pinhal, no sitio de Corroios, e uma lagoa no sítio da Albufeira, termo do concelho de Sesimbra contendo pequenas casas de habitação, com cavalariça, e terreno de semeadura nas margens da mesma lagoa.

O Arsenal da Marinha no Alfeite

Tendo como objectivo a construção, nas praias da Margueira, de um estaleiro, devidamente dotado, face ao grande desenvolvimento da nossa industria naval, o engenheiro Miguel País, em 1871, sugere a transferência do Arsenal da Marinha de Lisboa, para a margem esquerda do Tejo.
Depois de vários estudos com vista à resolução do assunto, era alvitrado pelo contra-almirante Augusto Castilho, num curioso artigo publicado pelo Diário de Noticias de 28 de Maio de 1901, o local do Arsenal para a edificação do novo arsenal. No ano de 1906, o eng. Santos Viegas, apresenta o seu anteprojecto do Arsenal da Marinha, para a margem esquerda, abrangendo uma arca compreendida entre Cacilhas e Alfeite
Contudo, face às inúmeras discussões e projectos elaborados, este assunto teve a sua conclusão no ano de 1929, com o começo dos trabalhos de terraplanagem no mar do Alfeite, acabando dez anos depois, com a transferência do velho Arsenal da Marinha de Lisboa, para o Alfeite, em Janeiro de 1939, ocupando uma área de 33 hectares tirada ao Tejo, colmatando com a sua inauguração em 3 de Maio desse ano.

Fragata D. Fernando II e Glória

Lançada à agua em 22 de Outubro de 1843, este veleiro baptizada com o nome de D. Fernando II e Glória, em homenagem a D. Fernando II, marido da rainha D. Maria II e à protecção de Nossa Senhora da Glória, santa muito venerada em Goa, local onde foi construída.
Desempenhando inúmeras missões até 1940, altura em deixou de ser utilizada pela Marinha e passou a ser sede da "Obra Social da fragata D. Fernando", instituição de recebimento a jovens com fracos recursos, os quais apreendiam instrução escolar e treino de marinhagem.
Esses jovens marinheiros, com a sua fanfarra, eram uma presença muito apreciada e admirada, na tradicional procissão dos festejos religiosos em honra da Nª Sª do Bom Sucesso, realizada todos os anos, em Cacilhas, no dia 1 de Novembro. Em 3 de Abril de 1963, um incêndio no navio-escola, punha fim a um dos maiores veleiros, cuja presença durante muitos anos no estuário do Tejo, simbolizou a memória da nossa história como grande país de marinheiros.
Encalhado o que restou do seu casco, no Mar da Palha, durante trinta anos, este viria a ser removido do Tejo em 28 de Fevereiro 1992, para o Arsenal do Alfeite onde, depois de preparado, foi rebocado para os estaleiros da Gafanha da Nazaré, em Aveiro, onde chegou em Outubro de 1992, dando então início ao seu processo de restauro, operação minuciosa, que viria a colmatar com a sua saída, novamente, com destino ao Arsenal do Alfeite, a fim de ser devidamente preparada como navio-museu e apresentada ao público na Expo98, sendo depois fundeada no rio Tejo, cumprindo assim a sua missão como museu vivo